22.9.09 | Autor: Maria Augusta

Não sei se já aconteceu com vocês, mas algumas vezes quando chego diante de uma tela de um grande mestre que já vi em fotografia não sinto o impacto que esperava, não digo que fico decepcionada, o trabalho e a técnica do mestre estão ali, mas não consigo "entrar em sintonia", acho que me falta alguma coisa, uma corda na minha sensibilidade. Por outro lado às vezes me acontece o contrário o impacto é muito maior que o esperado...isto me ocorreu com as telas de Monet e dos impressionistas em geral. E foi fortíssimo quando vi há alguns dias a exposição de van Gogh no Kurnsmuseum de Basiléia...elas me arrepiaram, achei tão lindo que poderia passar horas ali a apreciá-las. O título da exposição é "Entre terra e céu - As Paisagens" e nela foram trazidos de vários museus do mundo 70 quadros (alguns pouco conhecidos do público), traçando as etapas da produção artística de van Gogh e os ciclos da natureza que ele retratou em suas paisagens.

Campos de flores na Holanda -abril 1883, óleo sobre tela 48,9cm x 66 cm

Filho de um pastor protestante, van Gogh nasceu em 1853 na Holanda. Antes de se tornar pintor, ele tentou outras profissões como o comércio de quadros e mesmo como pregador religioso. Graças ao apoio de seu irmão Theo, ele abraçou a vida artística aos 27 anos e depois de passar por Bruxelles e Antuérpia na Bélgica, ele foi trabalhar em Paris, onde conviveu com Monet, Pissarro, Sisley, Degas, Signac, Seurat, que influenciaram fortemente seu estilo, principalmente em relação às paisagens (até o advento dos impressionistas, o que dava prestígio a um pintor eram os retratos, a pintura das paisagens era tida como uma atividade marginal) e à utilização de cores mais luminosas em relação às cores "terrosas" que empregava até então.

Cercado de jardim - julho 1888, óleo sobre tela 73cm x 92cm

Ele partiu em seguida para o sul da França, à cidade de Arles, na região do Midi, mais quente e ensolarada. Seu projeto era nela criar uma colônia de artistas, mas o único que aderiu ao projeto foi Gauguin...no entanto a convivência entre os dois foi tumultuada, culminando com o episódio no qual van Gogh se cortou um parte de sua orelha. Sua tendência depressiva se acentuou nesta época e, ele se internou em uma clínica em Saint-Rémy, onde prosseguiu sua atividade artística. Foi então que começou a aparecer em sua obra aquelas formas onduladas, retorcidas e fortemente carregadas de expressão.

Os Ciprestes - julho 1889, óleo sobre tela 93.3cm x 74cm

Com a piora de suas crises, a conselho de seu irmão Théo, van Gogh começa a ser tratado pelo dr. Gachet em Auvers (a 30 km de Paris), com o qual ele cria laços de amizade. Nesta época ele pintou uma série de telas retratando a paisagem das redondezas. Mas seu estado psicológico se deteriorou e ele acabou atirando contra si mesmo, e morrendo em consequência de seus ferimentos, aos 37 anos...justamente quando a grandiosidade sua obra começava a ser reconhecida...

Coloquei aqui no Picasa algumas fotos de suas telas na exposição, que estão em alta resolução, logo não hesite a usar o F11 para ver na tela inteira (para voltar ao tamanho normal use também o F11). Vale a pena! E o vídeo abaixo apresenta a música chamada "Vincent" de Don MacLean, que é um tributo à vida e à obra de van Gogh.




Site oficial da exposition (fonte das fotos)


Update 21/09/2009

A Laura, do
Caminhar está postando hoje (aqui) um vídeo que mostra as paisagens primaveris de van Gogh ao som da "Primavera" de Vivaldi. Muito lindo!

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22 comentários :

On 22 de setembro de 2009 às 11:55 , Anônimo disse...

Um GENIO da pintura! Só!
Parabéns pela acurada postagem!

 
On 22 de setembro de 2009 às 12:14 , Wania disse...

Concordo contigo, Maria Augusta.

Tem quadros que admiramos e tem os que, realmente, nos "puxam" pra dentro, tb não sei explicar mas acredito que nos "toquem" de uma maneira especial... uma sintonia fina!

Tive oportunidade de conhecer estas maravilhas de Van Gogh que tu relatas tão bem aqui quando visitei o Museu dele em Amesterdam... imagens até hoje indeléveis na minha Alma!

Lindo post, me fez reviver as lembranças de uma viagem ótima que fiz!


Bjs e bom dia pra ti

 
On 22 de setembro de 2009 às 18:35 , Lunna disse...

Já vi muitas telas nas quais ficava lá a olhar e só via uma aquarela de cores quando muito. Por isso gosto muito de Magritte, ele sempre me sequestra os sentidos e fico com aquela sensação de estar a visualizar uma outra realidade. Tarsila também me causa isso, mas muito mais com os desenhos que com suas telas. Van Gogh é um mestre e sua arte me deixa em estado constante de reflexão, é como olhar para uma paisagem contínua, que não se perde. Fica na mente, na pele, na alma.

Ps. Um pequeno segredo, é com base nas minhas sensações "causadas" por Van Gogh que explico a arte da Debora.

Beijos carissima e grata por esse momento de arte (mais um) que você me permite.

 
On 22 de setembro de 2009 às 19:53 , João Menéres disse...

Os meus mais sinceros parabéns por esta magnífica postagem, MARIA AUGUSTA!
Concordo inteiramente com o que disseram os três comentadores que se antecederam e com toda a tua lúcida explanação.
Quantas vezes não se deu o mesmo comigo (com toda a gente, imagino) ?

Só não sei usar o F11...
Um beijo muito agradecido por trazeres aqui a casa parte dessa exposição.

 
On 22 de setembro de 2009 às 20:54 , sonia a. mascaro disse...

Maria Augusta, gostei demais deste post, com as suas impressões pessoais e com as belíssimas fotos que você nos brindou! Linda também a música que você escolheu.
Sempre me impressionou e encantou essas expressivas formas onduladas e retorcidas de sua pintura. Um grande beijo e obrigada por mais esta beleza toda!

 
On 22 de setembro de 2009 às 21:42 , Selena Sartorelo disse...

Olá Maria Augusta,

Valeu a pena esperar e perceber toda essa beleza que você soube tão bem descrever. Um dia...há algum tempo atrás,postei um texto com uma tela de Van Gogh e nesse dia a Lília do blog Arco Iris me enviou um e-mail com esse video e uma carta que o acompanhava que era só poesia, as palavras dela transbordavam inspiração e sentimentos bons...ainda não conhecia a tradução mas sabia, o que Van Gogh sentia, pois sempre estou lendo as cartas que ele escreveu para seu irmão Theo como bem você mencionou...onde com todo o sentimento descrevia cada quadro que fazia, as cores e os cheiros que elas tinham, toda a angústia que sentia, toda a vida e significado que estava empregnado na sua loucura que era pura alegria. Os momentos da vida que ele percebia, faz-me acreditar que essas foram escritas hoje.

Ontem, acho que foi, eu postei um vídeo sobre os pintores impressionista, mas o deletei hoje logo pela manhã, afinal o sol não apareceu e eu queria falar da primavera..essa que nos traiu e ainda não surgiu por aqui. Imagine só, que hoje faz frio.
E hoje faço um lindo passeio com essa postagem...feliz coincidência.
Acho que nunca antes, quis tanto viajar como agora quero. Mas sei que esse momento não provém então viajo com os olhos que tenho sob o teu olhar.
Lindas são suas impressões.
Linda é essa melodia e essa arte que apresenta toda essa soberania
Poesia em toda a sua supremacia.
Mérito pela qualidade que tem.

beijos,

 
On 22 de setembro de 2009 às 23:36 , Jorge Pinheiro disse...

Adoro impressionismo e Van Gogh nem se fala. Uma óptima resenha biográfica. Só não gosto da música (nunca gostei). Mas isso sou eu que sou esquisito...

 
On 23 de setembro de 2009 às 03:29 , Laura_Diz disse...

Adoro Van Gogh.
Obrigada pelo link, é mto lindo tudo dele.
Volto depois p ler o seu texto com calma, hj estou c mt sono, ando super cansada.
Bjs Laura

 
On 23 de setembro de 2009 às 03:30 , Laura_Diz disse...

Voltei p dizer q já faz um ano q estive em Paris. Nossa! passou tão rápido, morro de saudades, quero voltarrrrrr
Desta vez, quem sabe consigo te encontrar e a Tereza na Irlanda, agora. Bjs
Laura
Sonhar é bom :)

 
On 23 de setembro de 2009 às 03:41 , Dalva Nascimento disse...

A visão das obras de Monet foram para mim um êxtase insuperável, de tirar um fôlego. Fiquei literalmente horas diante dos quadros, me sentindo como uma criança... com medo de não conseguir "olhar" tudo!

Obrigada por partilhar Van Gogh!

Bjs.

 
On 23 de setembro de 2009 às 08:28 , Maria Augusta disse...

Eduardo, gênio é a palavra certa para descrevê-lo, vendo esta exposição tive certeza disto.
Um abração.

Wania, é realmente uma experiência que nos marca para sempre, ver as manifestações do gênio humano geradas por uma pessoa que nem foi reconhecida durante sua vida...
Beijos.

Lunna, também gosto de Magritte, mas ainda não tive a oportunidade de ver uma exposição dele. Tua personagem Débora é fascinante, se ela foi criada baseada nas sensações que van Gogh te desperta, imagino que estas devem ser muito fortes.
Um grande beijo.

João, em um post fica difícil transmitir minhas impressões sobre a exposição, ainda não consigo traduzi-la bem em palavras. Quanto ao F11, fica no teclado do PC em geral acima da primeira fileira de teclas. Quando se olha o diaporama no Picasa, eles propõem sua utilização (basta pressioná-la) para ver em tela plena e para voltar a tela ao seu tamanho normal. Não sei se o teclado do Mac também a tem, acredito que sim.
Um abração.

Sonia, nesta exposição dava para perceber claramente a evolução das cores e do traço de van Gogh, estas formas onduladas começaram a aparecer nos dois últimos anos de sua curta vida.
Um grande beijo.

 
On 23 de setembro de 2009 às 08:45 , Maria Augusta disse...

Selena, pois é, e aqui começamos o outono com um sol maravilhoso, nesta época do ano sua luz tem uma cor diferente, gosto muito. É verdade que a correspondência de van Gogh com seu irmão Theo permite que entendamos muito sobre seus sentimentos e sua depressão. Espero que o sol apareça e que você poste em breve o vídeo sobre os impressionistas.
Um beijão.

Jorge, acho que não é esquisitice sua rs, também não gosto muito desta música, mas como o vídeo traz telas de van Gogh e a letra fala de sua vida, achei oportuno trazê-la.
Abraços.

Laura, sonhar é bom e melhor ainda é transformar o sonho em realidade. Como seria bom nos encontrarmos as três em Paris, eu a adoro e vou lá menos do que gostaria, apesar de morar perto rs.
Beijos.

Dalva, Monet foi o primeiro que me fez sentir que a obra de perto pode ser muito mais bela que sobre as fotos (pois com os da Renascença senti o contrário rs). Quando vi o "Impression soleil levant" no museu Marmotan, um quadrinho pequeno que teve tanta importância para a história da arte...e que cores, que textura...e as Nymphéas então...é de tirar o fôlego mesmo.
Um grande beijo.

 
On 23 de setembro de 2009 às 10:28 , Paçoca disse...

Maria Augusta,
se existe inveja boa, eu estou morrendo de inveja da sua ida à exposição do Van gogh. De qualquer forma, não tendo podido ir, agradeço a generosidade da sua postagem e a deliciosa música do don mclcean. Obrigada também pela visita.Eu fico feliz de saber que eistem pessoas como você no mundo.Feliz e aliviada, porque às vezes tudo parece tão árido, vc não acha? Quanto a se supreeender com a obra de arte para mais ou para menos é esta a fução da arte. Bjs da Paçoca (márcia)

 
On 23 de setembro de 2009 às 10:30 , Paçoca disse...

Vou te copiar e colocar o video do youtube no meu site também. Bjs de novo

 
On 23 de setembro de 2009 às 12:02 , Aninha Pontes disse...

Imagino que seja mesmo de arrepiar.
Ainda me lembro da primeira vez que entrei no Masp, levada pela mão do Bem, claro, aquilo tudo me arrepiava, e mais, não tinha vontade de sair de lá.
Um beijo querida.

 
On 23 de setembro de 2009 às 17:10 , Elma Carneiro disse...

Lindo, lindo!
Campos de flores na Holanda, Noite Estrelada, Campo de Trigo com Corvos.
Van Gogh não foi compreendido na sua linguagem pois estava mudando o conceito da arte (para melhor).
Quem leu os livros sobre Van Gogh não tem como fugir da cumplicidade que experimenta ao saber de suas angústias pela busca do novo.
Deixo aqui um poema de uma grande amiga goiana Yêda Schmaltz, poeta, professora de artes, mas que infelizmente faleceu prematuramente há poucos anos.

Beijooo

“Eu seria um bom barco
da popa à proa, a vela de lã bruta
ou de linho tingido de vermelho.

Navegaria em risco, nos Países baixos,
só para ver o lírio azul de Van Gogh,
só para ver a casa de Anne Frank”
.

 
On 23 de setembro de 2009 às 17:24 , http://saia-justa-georgia.blogspot.com/ disse...

Maria Augusta, gosto demais dele.

Sem dúvida ele foio um gênio. Eu gosto muito de várias pinturas dele, a do povo no campo é uma das minhas preferidas.

Mas penso que ele era um solitário, que teve uma vida triste. Incompreendido na sua obra para aqueles tempo, assim como a maioria dos gênios.

Lindas imagens.

Um grande beijo

 
On 23 de setembro de 2009 às 21:04 , Anônimo disse...

Um esplêndido post sobre um dos maiores da pintura. Realmente a sua obra revela o seu ser, uma pessoa atormentada e permanentemente criativa, mas isso mesmo é que diferenciou a sua pintura e nos assombra.
Um grande beijo!

 
On 24 de setembro de 2009 às 09:35 , Maria Augusta disse...

Paçoca, existem vantagens e desvantagens por morar em Nancy, e uma das vantagens é que tudo é "perto" o que permite o acesso mais fácil a eventos como esta exposição.
Pode "copiar" à vontade rs.
Beijos.

Aninha, o MASP tem um acervo muito rico e no Brasil ocorrem sempre exposições importantes como esta, que são de "arrepiar" mesmo.
Beijos.

Elma, obrigada pelo poema, realmente ele foi inovador e não se encaixava nos conceitos da época, foi infeliz durante toda a sua curta vida...e esta angústia explodiu em cores e curvas nos seus quadros, de forma magistral.
Um grande beijo.

Georgia, é uma pena que ele não conheceu o sucesso e nem pôde imaginar a gloria que suas obras encontrariam depois de sua morte.
Um grande beijo.

 
On 24 de setembro de 2009 às 19:03 , nilda disse...

Maria Augusta,como é bom ter um blog como o seu para me ajudar a sonhar. A distancia a tudo isso fica bem menor.
Beijoca.
Nilda.
http://meucantin5.blogspot.com/

 
On 27 de setembro de 2009 às 00:02 , teresa disse...

maria augusta, eu já tive as duas experiências. a decepção aconteceu diante da Monalisa, no Louvre (achei que algumas fotos do quadro eram mais bonitas do que o próprio quadro). o encantamento foi no museu do padro em madri, diante do quadro as meninas, de velasquez. eu até dei um passo pra trás, de tanto que ele me impactou.

 
On 27 de setembro de 2009 às 13:12 , Maria Augusta disse...

Nilda, em São Paulo e nas grandes cidades brasileiras também ocorrem exposições assim. A vantagem aqui é que as distâncias não são tão grandes, por exemplo esta exposição fica a aproximadamente 300 Km de onde moro.
Um beijão.

Teresa, a Monalisa nunca tive a oportunidade de observar tranquilamente, cada vez que vou ao Louvre tem uma multidão na frente dela...
Um grande beijo.